A pergunta do Giannotti
Edmilson Lopes Júnior
De Natal (RN)
Na última semana, um encontro
promovido pelo Instituto Fernando Henrique reuniu antigos dirigentes da área
econômica e intelectuais tucanos para diagnosticar os principais problemas
econômicos do país e, se possível, apontar propostas substantivas para uma
alternativa ao que vem sendo feito desde que o Lula tomou posse em 2003. O
título do evento não poderia ser mais pomposo: "Transição incompleta e
dilemas da (macro) economia brasileira".
Os "pais do Real", hoje
aboletados nas direções de bancos e fundos de gestão, não trouxeram a esperada
luz que iluminaria o escuro caminho da oposição. Com a notável exceção de
Pérsio Arida, que apontou a necessidade de uma revisão das regras de gestão e
de aplicação dos recursos dos fundos dos trabalhadores (FGTS e FAT), os demais
pisaram sobre terreno por demais batido. Queriam mais do mesmo: redução dos
gastos públicos. Houve até quem propusesse que abandonássemos a perseguição do
modelo de estado de bem-estar (welfare state) europeu.
Nós, que jamais tivemos
welfare-state de verdade, deveríamos abandonar a ilusão de realizá-lo. Essa
proposição, em um encontro de intelectuais de um partido que carrega no nome o
peso da definição socialdemocrata, é, por si só, reveladora. Se a democracia
social europeia não deve nos orientar como modelo, para qual direção devemos
mirar? Para a China, onde o milagre do crescimento econômico se faz à custa de
uma força de trabalho submetida a regimes de trabalho semiescravo? Ou, quem
sabe, para os EUA, onde, trinta anos de enxugamento dos gastos sociais e de
acentuada concentração de rendas não livraram o país de uma crise que ameaça
arrastar o resto do mundo?
O melhor relato do encontro
tucano foi feito pela jornalista Maria Cristina Fernandes, colunista de
política do jornal Valor Econômico. Segundo ela, após Pedro Malan
ter afirmado, certamente com a candura e objetividade de sempre, que "os
que tinham a Europa como modelo vão precisar rever os seus conceitos", o
filósofo José Arthur Giannotti não conseguiu se conter e, dirigindo-se ao
conjunto dos economistas, indagou: "Desde o último artigo que li de
Gustavo Franco tive a impressão de que vocês descreem da impossibilidade de se
prover o welfare state. Mas o que pretendem fazer com essa gente?".
Ao que parece, os emplumados
economistas preferiram dar de ombros diante da pergunta do filósofo. Giannotti,
como bom filósofo, resumiu em sua pergunta o dilema que devora parte do campo
político brasileiro. Ora, se a oposição não sabe o que pretende fazer com
"essa gente", por que diabos "essa gente" vai querer algo
com essa oposição?
O que resta para essa oposição,
já que não dá para nenhum político, em pleno domínio de suas faculdades
mentais, sair por aí repicando as receitas de Pedro Malan e Gustavo Franco, é
procurar casos de corrupção no Governo para denunciar. O moralismo, ao
contrário do que muitos pensam, não é uma opção. É o que resta como discurso
para uma oposição que, após oito anos, ainda não descobriu o que "fazer
com essa gente".
Edmilson Lopes Júnior é professor de sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN).
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